Wednesday, August 31, 2011

Was ist Aufklärung?

Segundo Foucault ("Qu'est-ce que les Lumières?") essa é a questão fundamental da filosofia: como verdade e liberdade podem ser relacionadas? Mais do que interrogar sobre os limites da razão, objeto central da Crítica de Kant, Foucault sugere que a questão do Esclarecimento hoje é inseparável da atitude de continuarmos o trabalho indefinido da liberdade. Por que nos tornamos o que somos, apesar do que pensamos? Ser esclarecido é ter a coragem de por-se em experiência "comme une épreuve historico-pratique des limites que nous pouvons franchir, et donc comme travail de nous-mêmes sur nous-mêmes en tant qu'êtres libres". Na medida em que essa atualização crítica passa pela modificação do elo entre vontade, autoridade e razão, a questão fundamental da filosofia hodierna confunde-se com a questão do direito, da ética e da política, ensembles pratiques não mais desvinculados do mundo teórico, da busca crítica da verdade. O que fazemos e o como fazemos - consequencia da questão sobre o que devemos fazer - denuncia o que pensamos, as formas de racionalidade que organizam o aspecto tecnológico (o que) e estratégico (como) de nossas práticas.

O cidadão e o homem

Segundo Karl Löwit ("De Hegel a Nietzsthe", obra de 1941), Rousseau foi o primeiro a identificar a problemática humana na sociedade burguesa: o homem é um ente cindido entre sua condição privada e seu estatuto público. Rousseau via, de fato, uma incompatibilidade entre humanidade e patriotismo. Melhor: vejo uma aporia entre os dois termos, um conflito ainda não resolvido pela história política. Os Estados totalitários, como o Estado em geral, sobrevive da obediência e da servidão. Seu elemento é o homem artificial, o cidadão esvaziado de qualquer sentido humano, desvinculado do reino da natureza. O servidor público não atingiu sequer o limiar do homem mínimo, enquanto animal que se bate pela libertação daquilo que o oprime ou oprime o outro. O cidadão é a continuidade do servo (cidadão avant la lettre), um ser esquizofrênico: de tanto servir, esvaziou-se de conteúdo, regredindo à figura de uma coisa.