Wednesday, October 13, 2004

Anais

Em 2004, os bastidores do Ministério da Educação estavam em polvorosa; é que, numa reunião, um dos seus gestores havia dito aos recentes servidores, todos pesquisadores (mestres e doutores): "Na minha terra se diz que a relação hierárquica é como um empilhamento de penicos furados, eu estou no topo, portanto, é melhor me obedecerem". Interpretando essa tecnologia de gestão: os que entram sem concurso público ficam acima do penico de cima, os que fazem concurso público ficam abaixo do penico de baixo, contra quem a lei da gravidade é impiedosa. Os que se recusarem a ficar no penico de baixo são perseguidos implacavelmente, não lhes restando outra alternativa  senão aprender a trabalhar contra a lei da gravitação universal. A metáfora faz lembrar uma fase anal mal resolvida, segundo os estudos de Freud. Infelizmente, enquanto não se tornar democrática e republicana, a administração do Estado continuará sendo terapia privada - paga com dinheiro público - para chefes da direita ou da esquerda. Há também os que, na falta de entusiasmo pelo que fazem, ou mesmo na falta de criatividade, passam o tempo a assediar suas servidoras. A administração pública, capturada pelo interesse do sistema de partidos e empresas, degenera em meio de satisfação dos bolsos de grupos corruptos e em meio de premiar a libido reprimida de seus acólitos.