Tuesday, June 02, 2009

Latas dialéticas

O automóvel, do mais simples ao mais sofisticado, possui em si um conteúdo de verdade que o nega, sendo, por isso, um exemplo vivo da dialética da civilização consumista, pois ele representa a própria imobilidade: quantos mais carros existem num centro urbano qualquer, mais lentas são as pessoas e os serviços. Essa é a lógica do capitalismo na indústria automobilística: vender o desejo de velocidade na velocidade mesma do desejo, nem que para isso tenhamos que ficar parados. É quando o valor de troca só vale pelo valor de uso que elimina.

Mass media


Ao contrário do que pensa Gianni Vattimo, com seu niilismo suspeito, os mass media não apontam para uma “explosão e multiplicação generalizada de Weltanschauung, de visões de mundo” (A sociedade transparente, 1991, p. 13), nem indicam a passagem da modernidade para uma pós-modernidade, a menos que se entenda por pós-modernidade a indiferença ou a virtualização da barbárie.

O niilismo conformista de Vattimo conduz a uma espécie de ontologização do valor de troca, apenas expressando filosoficamente o óbvio, a saber, a dinâmica moderna de exposição do ser em mercadoria. Vattimo encara positivamente o que ele designa de fabulização do mundo, resultado da reificação geral; a consumação do ser em valor de troca, operada essencialmente pelos mass media, “(...) comporta um debilitamento da força coercitiva da ‘realidade’ ”(O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna, 1996, p. 13).

Menos seduzido pelo fascínio dos meios de comunicação, o poeta, romancista, cineasta e ensaísta italiano Pier Paolo Pasolini dizia que o centralismo fascista não conseguiu fazer o que fez o centralismo da sociedade de consumo na Itália: destruir as culturas particulares dos camponeses, subproletários e operários. Para Pasolini, a televisão não é apenas um lugar por onde as mensagens circulam, mas um centro elaborador de mensagens, não considerado como meio técnico, porém, como instrumento de poder: “é o lugar onde se concretiza uma mentalidade que de outro modo não se saberia onde instalar” (Os jovens infelizes: antologia de ensaios corsários, 1990, p. 60). É por meio dela que “se manifesta o espírito do novo poder”. Com efeito, Pasolini afirma enfaticamente: “Não há dúvida (os resultados o demonstram) de que a televisão é o meio de informação mais autoritário e repressivo do mundo. Comparados a ela, o jornal fascista e as inscrições de slogans mussolinistas nas fazendas são risíveis: como (dolorosamente) o arado comparado a um trator. O fascismo, insisto, no fundo não foi capaz nem de arranhar a alma do povo italiano: o novo fascismo, através dos novos meios de comunicação e informação (especialmente, da televisão) não só a arranhou, mas a dilacerou, violentou, contaminou para sempre (...)” (Idem).