Monday, June 18, 2012

Universidade Livre

Logo após o fim da universidade pública e do movimento estudantil, subiu um menino no topo dos escombros do Ministério da Educação e falou:

"Este é o momento e o espaço de ruptura com o verbo sem carne, sonhos sem projetos e projetos sem paixão. Vamos instituir a universidade que queremos com todas as consequências que possam advir desse encontro da pulsão de vida com o mundo concreto. Não há mais nada a esperar ou acabaremos cúmplices de palavras-de-ordem ou de filosofias sem vontade. Universidade é  a expressão do pensamento crítico em atos, é a academia da transgressão - da arquitetura à criatura, das estruturas aos sentidos. Ocuparemos as praças e terrenos marginais para o exercício do prazer, castrado pela velha ordem e seus habitantes. Blocos, pavilhões e laboratórios pertencem ao passado, antigos museus da bastilha do conhecimento. O sprit du corps de centros acadêmicos e sindicatos de funcionários e professores, movidos pela fome e sede de mediocridade, está livre. Os manuais estão extintos. A arte migrará para a vida, que não será obra de escravos ou de bobos da corte. O esporte acontecerá unindo ideia e matéria em nossos corpos apaixonados por mudança. "

Daquela montanha de lixo, o menino saltou com desenvoltura sobre o skate, apontou a multidão com um olhar magnânimo e surfou numa perigosa vertical, perfurando a multidão em direção ao parque. O dia estava lindo e ele estava só...e leve.

Saturday, June 16, 2012

Bacaniana

O que dá o sabor ao whisky é a amargura.

Rio + x

A ideia de capital verde me lembra a saga do incrível Hulk, de Jack Kirby e Stan Lee: o super-herói tudo destrói (rima infeliz) para salvar a humanidade. Os chefes de Estado padecem da síndrome da razão-Hulk, ou seja, da desrazão. O capital (substantivo) não pode ser qualificado por verde (adjetivo): isso é a conhecida contradictio in adjecto. Quando os gerentes-Bruce se reúnem para falar de natureza, querem nos fazer crer que mantêm o autocontrole diante da fome de ostentação das corporatocracias. Porém, à menor ameaça de diminuição de sua taxa de lucro, os gerentes-Bruce se transformam (sem querer) no monstro verde, quando compram ministros da economia e do planejamento, diretores de bancos centrais, governadores e presidentes; erguem hidrelétricas, alagam territórios, envenenam peixes e pisoteam o futuro das crianças índias e campesinas. Após a tormenta, voltam ao tímido estado de Bruce, com remorso e roupas rasgadas, os corpos feridos e a certeza de que não poderão controlar a pulsão de morte, enquanto o modo burguês de pensar lhes atormentar os tímpanos.

Wednesday, June 06, 2012

Amar é...

Partilhar carinho, olhares, atenção, respeito, projetos, problemas e sacrifícios; o que sobra é estelionato.

Hermes acorrentado

São poucos os jornalistas em nosso país que desvelam fatos e verdades. Esperam que a notícia os procurem e os façam falar, como se regidos pelo princípio da inércia: "dá-me a notícia que - se ela for boa - a publico". E eis que, por um bom trocado, sempre a mesma realidade é estampada radiante em jornais, blogs, revistas e canais de tv, com os mesmos comentadores e as mesmas interpretações. É preciso mais que nunca o retorno do jornalismo rico, revolucionário e crítico das Luzes, que contribua para que os brasileiros alcancem a maioridade, por meio da ousadia de pensar por si mesmos, como já nos ensinaram Voltaire e Kant.

Tipos ideais

No Estado existem três tipos de servidores: os de bom caráter, os de mau caráter e os sem-caráter. Os primeiros escrevem a história da política e do direito (são almas admiradas pelos filósofos) ; os segundos, a história de seu próprio umbigo (esses, os prediletos de cientistas políticos e historiadores); e os terceiros, são nulos (os preferidos dos psicanalistas), apátridas de si mesmos, fazem-se de amigos dos guerreiros do vir-a-ser e deitam com os déspotas, são dados à bajulação e ao serviço de quarto de gabinetes, são frios, bipolares, pseudo-educados (etiquetados), reprimidos e vivem calculando posições nos aparelhos. Os bons querem uma república; os maus, empanturrar os bolsos e inflar o pobre ego; os nulos, apenas as esmolas da realeza.