Wednesday, April 13, 2005

Dos vermes

O juízo de Hegel acerca do império romano cai como uma luva em nosso juízo sobre o fim da política em nossos dias: de um lado, temos um Estado que encarna o despotismo e o nepotismo, de outro, o interesse privado dos concentradores de renda. No fundo, uma coisa só, uma conjunção de ladrões de cargos e rendas, regidos por um direito formalista, um dever-ser sem ser. Diz Hegel em suas Lições sobre a filosofia da história : "Da mesma forma como quando o corpo físico se dissolve todo ponto adquire uma vida por si mesmo, a qual no entanto não passa da vida miserável dos vermes, assim também o organismo estatal se dissolve nos átomos das pessoas privadas (...). O corpo político é um cadáver em putrefação, cheios de vermes pustulentos: as pessoas privadas."

Ora, se trouxermos essas duras palavras para dentro da estrutura funcional do Estado, veremos seu conteúdo de verdade com mais clareza. Com efeito, a administração se funda conforme o princípio imperial da hierarquia: servidores subordinados a um chefe, o qual está efetivamente acima da Constituição, ou seja, do Estado democrático de direito. Segundo Hegel, essa era a situação do império romano, no qual "todos, menos o autocrata, são somente súditos, pessoas abstratas".

A idéia hegeliana de um Estado que encarna a liberdade ainda não passa de uma quimera.