Wednesday, August 31, 2011

O cidadão e o homem

Segundo Karl Löwit ("De Hegel a Nietzsthe", obra de 1941), Rousseau foi o primeiro a identificar a problemática humana na sociedade burguesa: o homem é um ente cindido entre sua condição privada e seu estatuto público. Rousseau via, de fato, uma incompatibilidade entre humanidade e patriotismo. Melhor: vejo uma aporia entre os dois termos, um conflito ainda não resolvido pela história política. Os Estados totalitários, como o Estado em geral, sobrevive da obediência e da servidão. Seu elemento é o homem artificial, o cidadão esvaziado de qualquer sentido humano, desvinculado do reino da natureza. O servidor público não atingiu sequer o limiar do homem mínimo, enquanto animal que se bate pela libertação daquilo que o oprime ou oprime o outro. O cidadão é a continuidade do servo (cidadão avant la lettre), um ser esquizofrênico: de tanto servir, esvaziou-se de conteúdo, regredindo à figura de uma coisa.

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