Tuesday, March 08, 2005

Um animal não-humano pode ser uma pessoa?

Se existem razões para rejeitarmos o assassinato de uma pessoa, seja porque isso cause desprazer aos outros, frustre os desejos e planos futuros da vítima, viole seu direito à vida ou o princípio da autonomia, será que podemos extender essas razões para que também rejeitemos o "assassinato" de animais não-humanos?

A maneira mais inteligente de respondermos a essa questão é investigarmos se os animais, ou pelo menos alguns deles, podem ser considerados como pessoas, seres racionais e autoconscientes, entidades distintas que têm a noção de passado e futuro. Vejamos alguns casos relatados por Peter Singer, em sua Ética Prática (1993), que podem abalar nosso especismo, ou seja, a tendência de separarmos radicalmente nossa espécie das outras, a ponto de limitarmos nossos juízos éticos às fronteiras do demasiado humano.

A chipanzé Washoe

Os cientistas americanos Allen e Beatrice Gardner a adotaram como se fosse um bebê humano sem as cordas vocais, estabelecendo com ela uma comunicação por meio de sinais. Washoe aprendeu a compreender cerca de 350 sinais diferentes e a usar uns 150 deles de forma correta, chegando inclusive a juntar sinais para formar frases simples. Diante de sua própria imagem no espelho, ela foi capaz de reconhecer-se. Voltando a viver com outros chipanzés, em Washington, onde adotara um bebê chipanzé, Washoe estabelecera uma comunicação se sinais com ele, tentando ensiná-lo a técnica aprendida.

O gorila Koko

Este tem um vocabulário corrente de 500 sinais, já chegando a usar corretamente cerca de 1000 sinais, graças a seu professor Francine Patterson, que também fala inglês com seu exótico aluno. Koko é capaz de compreender mais de mil palavras faladas em inglês, além de reconhecer-se diante do espelho. Seis dias depois de seu aniversário, lhe perguntaram o que tinha acontecido naquela data. Koko respondera utilizando sinais que indicavam dormir, comer, o que significa que o gorila, além de ter consciência de si, tem noção de tempo, de passado e futuro.

Enfim, muitas outras experiências, nas mais variadas situações, têm sido feitas com chipanzés, gorilas e orangotangos, com indícios evidentes de que estes animais não-humanos, apesar de não terem um comportamento lingüístico, têm consciência de si e percebem a consciência do outro, planejam suas ações e podem pensar em moldes bastante complexos.

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