Tuesday, March 08, 2005

Devemos matar animais em geral?

Consideremos aqueles animais que não são sequer objeto de especulação, no que concerne à descoberta de sua pessoalidade. Estamos falando dos animais apenas conscientes, enquanto seres que sentem prazer ou dor, para usarmos a terminologia utilitarista de Peter Singer. Existem razões para não lhes tirarmos a vida?

Como estes animais não são autônomos e nem se habilitam ao direito à vida, nem Kant, nem Tooley servem para fundamentar a defesa desses seres. Apenas o Utilitarismo pode se habilitar a advogar a favor deles.

Quando a morte ocorre com dor, a defesa é mais simples. Os seres sencientes não têm interesse nenhum na dor. Pelo contrário, todos têm interesse instintivo em manterem-se vivos da melhor forma possível. É fácil também percebermos que é desagradável para qualquer animal presenciar a morte não instantânea de um seu igual. Se há dor para quem morre, há sofrimento para quem vive. Portanto, há razões diretas e indiretas para a defesa da vida desses seres, em se tratando de uma morte dolorosa, para quem vai e para quem fica.

Contudo, se considerarmos da morte sem dor e sem perda para os outros, a defesa se torna bem mais difícil. Vejamos, assim mesmo, as possibilidades dessa defesa.

Poderemos assumir, então, o ponto de vista da existência prévia, segundo o qual "é errado matar qualquer ser cuja vida provavelmente tenha, ou possa vir a ter, mais prazer do que sofrimento (Singer, 1993, pp. 129-130)." A conseqüência do uso desse argumento é que consideraremos um erro matar animais para nos alimentarmos, pois o prazer de continuarem vivos é, sem dúvida, bem maior que a satisfação de nosso apetite.

Também poderemos usar o argumento da substituibilidade e considerar que a perda infligida aos animais para fins alimentares serão compensadas pelos benefícios conferidos aos outros, mantendo a maximização do prazer total. Singer chama a tenção para dois problemas que enfraquecem este ponto de vista:

1. se o argumento é válido, quando se trata de animais que têm uma vida agradável até o momento de sua morte, ele não justificaria a atitude de nos alimentarmos de carne de animais criados em modernas fazendas industriais, em extremas condições de sofrimento;

2. se o que importa é o total de vidas felizes, as pessoas humanas estão em minoria com relação à infinidade de seres felizes de outras espécies. Se o planeta está com os dias contados, por causa de nossa irracionalidade, deveríamos ser eliminados para que a grande diversidade de espécies continuasse vivendo, independentemente de nossas virtudes. E aí, se quiséssemos realmente maximizar o prazer total, deveríamos incluir em nossa dieta produtos agrícolas e não a felicidade dos outros.

1 Comments:

At 3:26 PM, Anonymous Anonymous said...

Obrigado por Blog intiresny

 

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