Monday, June 07, 2010

Burkas

Sem querer especular sobre as razões de Sarkozi, a proibição do uso público da Burka na França é coerente com a história da França, que fez uma revolução dos costumes quando os demais países europeus restavam inertes diante da obscuridade monárquico-cristã. Numa era dos extremos como a nossa, é preciso que a humanidade avance, antes que regrida à barbárie. O absolutismo não tem direito à liberdade, a opressão não pode ser livre. A defesa da Burka em nome da democracia é um sofisma cínico, pois traz à baila um argumento voluntarista, quando de vontade não se trata. Em verdade, posa-se de homens virtuosos e liberais à custa da negação absoluta da imagem dos outros, ie, das outras. Os homens-do-meio esqueceram que o justo meio aristótélico também excluía mulheres e crianças: ou seja, estar no meio pode significar estar além ou aquém da dignidade humana, não sendo esse ponto médio da virtude um espaço geométrico, mas tempo histórico. E em nosso tempo a ordem masculina (ou feminina) de que as mulheres nascidas e a nascer devam cobrir-se deve ser rechaçada para sempre, em nome do que deve ser e do que não pôde ter sido. Não é proibido proibir a proibição.

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